Alta definição, resolução arrasadora e som digital não são o ápice da computação gráfica. O que ainda arranca suspiros de quem assiste a um filme ou joga um game feito nesses padrões são os pequenos detalhes. Movimentos das mãos e, principalmente, da face são os maiores desafios para os desenvolvedores e as maiores paixões dos críticos.
Hoje, o que está fazendo com que muitos fiquem de cabelo em pé são as primeiras imagens do novo jogo produzido pela Rockstar Games (produtora do aclamados Grand Theft Auto e Red Dead Redemption): L.A. Noire, que se passa em um período em que os gângsteres “faziam e aconteciam” nas cidades norte-americanas.
Não pelos gráficos inovadores dos carros e construções, nem pela história que está sendo apresentada. O ponto alto dos trailers é a expressão facial de cada personagem. Com movimentos realistas de sobrancelhas, boca e enrugamentos, fica difícil não perceber o estado emocional de cada um que esteja envolvido no enredo.


Ao contrário dos outros games da produtora, L.A. Noire não é tão focado na ação ininterrupta, mas sim na parte investigativa do departamento de polícia californiano. Segundo os desenvolvedores da trama, até mesmo as expressões faciais dos personagens podem representar possíveis mentiras em suas declarações, o que não pode fugir dos olhos dos jogadores.
Um passo para o futuro: o sistema MotionScan
Você pode estar se perguntando: “Por que isto é tão legal?”. A resposta não é apenas minha, mas vem de um coro que pede – em uníssono – por melhorias nestes detalhes dos gráficos há anos. Muitos jogos possuem gráficos quase perfeitos, mas nas cenas de diálogos deixam muito a desejar, mostrando bocas travadas e rostos sem expressão.

Até mesmo no cinema este tipo de falha pode acontecer. Para não precisar resgatar um passado longínquo, basta lembrar-se do filme “Tron” (a regravação de 2010). O vilão Clu realiza movimentos complexos com a boca, mas o resto de seu rosto parece que foi congelado, pois as alterações são mínimas.
Com L.A. Noire (ao menos nos trailers), estas falhas não existem. Utilizando um inovador sistema de captura de imagens, até mesmo pequenos detalhes como o quanto as bochechas inflam ou o quanto sobem as sobrancelhas em situações de nervosismo podem ser transformados em movimentos para os personagens.
Chamada Dubbed MotionScan (ou Depht Analysis – análise de profundidade, em português), a tecnologia combina sistemas de escaneamento facial de alta definição e algoritmos inteligentes. Essa combinação é responsável pela transmissão, em tempo real, das imagens que são captadas pelas câmeras e transformadas em modelos 3D nos computadores.
As pesquisas para a criação deste moderno esquema começaram a ser feitas em 2004, mas apenas no início de 2010 é que foi possível iniciar a utilização real do projeto. Para a criação do L.A. Noire, mais de 400 atores foram convocados para dar voz (e cara) às mais de 2,2 mil páginas (somente para o protagonista, são mais de 80 horas de gravação) de um roteiro complexo e audacioso.

Como é feita a captura dos movimentos?
Os equipamentos

(Estúdio de gravação)

Um estúdio foi desenvolvido especialmente para a gravação das cenas de L.A. Noire. Nele, os atores (um de cada vez) ficam dispostos no centro da sala, em uma cadeira, que não pode ser mexida para não atrapalhar a angulação das capturas. Por todos os lados há câmeras direcionadas à cadeira, prontas para capturar cada movimento realizado pelos artistas.



Ao todo, são 32 câmeras dispostas em pares para filmar os atores em duas angulações diferentes, completando 360 graus de abrangência. Todas elas são Full HD, ou seja, as imagens geradas possuem resoluções de 1920 x 1080 pixels. Estas câmeras Machine Vision podem gravar até 30 frames por segundo e custam 6 mil dólares cada.

Com ou sem marcadores?

Há dois tipos de tecnologias para a captura de movimento facial, os que utilizam (Marker-based) e os que não utilizam marcadores (markerless). Enquanto os primeiros deixam o rosto dos atores repletos de pontos para traçar a movimentação digitalmente, os segundos utilizam apenas câmeras e softwares complexos para movimentar os modelos digitais.
Filmes como “Expresso Polar” e “Beowulf” utilizaram as tecnologias de captura com marcadores, que deixa um pouco a desejar nos detalhes das expressões. L.A. Noire é produzido com o outro sistema, que utiliza apenas câmeras (32 hehe) para capturar a movimentação e criar modelos tridimensionais nos computadores. Mas para a captura dos movimentos corporais, são utilizados marcadores.

A importância dos atores

Como todos os personagens possuem expressões reais, é de suma importância que os atores tenham o comprometimento com o trabalho, o que exige um esforço inédito de grande parte deles. É sabido que as artes cênicas pedem bastante expressão corporal de seus adeptos, mas o MotionScan pede justamente o contrário.
Movimentos de braços, pernas, tronco e até mesmo pescoço não são utilizados pelos desenvolvedores do game, apenas o rosto é aproveitado. Também há o fato de que as câmeras são fixas e focadas em um ponto único, por isso todos os atores precisam ficar praticamente imóveis (o que é bastante trabalhoso).


Também é necessário que eles utilizem roupas laranja com uma bola verde no peito. Esse contraste é responsável pela focalização aperfeiçoada dos movimentos faciais. Como você pode ver no vídeo que está no topo deste artigo, não há pontos ou eletrodos fixados na pele dos artistas, tudo é feito pelas câmeras e pelos softwares.
E... Ação!
Após todos os detalhes estarem ajeitados: câmeras preparadas e atores com os textos decorados; chega a hora de começar a gravação. Ao mesmo tempo em que o ator fala, o modelo 3D é movimentado e o som é capturado em sincronia. Qualquer movimento da pele é reconhecido, até mesmo a tensão dos olhares e enrugamentos na testa.
Por dia, podem ser gravados até 50 minutos de ação. Para quem acha pouco, outros modelos de captura de movimentos não chegam à capacidade de 20 minutos. A eficiência e a qualidade, somadas, tornam o MotionScan o modo mais avançado de captura para games já lançado. Consequentemente, L.A. Noire terá o que há de mais moderno até o momento.



A equipe de desenvolvimento do jogo só precisou inserir os rostos e os sons nos corpos já criados e movimentá-los para criar toda a atmosfera do game. Segundo a equipe da Team Bondi (empresa responsável pelo MotionScan), tudo o que a Rockstar precisa fazer é colocar o rosto no corpo e ajustar as inclinações das cabeças.
Para que tanto em um jogo?
Muitos podem dizer que o investimento serve apenas para mostrar a superioridade da Rockstar no gênero, mas é necessário saber que as expressões faciais têm um papel de suma importância no desenrolar da história. Cada interrogatório de suspeitos possui falas que podem incriminar ou não os personagens, mas o rosto deixa estampado se ele está mentindo.
Também não podemos esquecer que a Rockstar Games é uma empresa que não lança qualquer jogo no mercado. Trabalhando apenas com títulos que possuem grandes chances de explodirem no mercado, seus jogos são sucesso de vendas por onde passam. Assim aconteceu com o GTA, assim aconteceu com o Red Dead Redemption e assim deve acontecer com o L.A. Noire.
Como já dissemos, este é o primeiro passo que uma desenvolvedora de games dá em direção ao futuro da captura de movimentos. Muitos já dizem que isso pode mostrar que os games e o cinema estão cada dia mais próximos e logo farão parte de realidades muito similares.

O que você pensa sobre essa nova tecnologia ? Acha que o MotionScan fará muita diferença para alavancar as vendas de L.A. Noire ou acabará sendo apenas mais um recurso de um jogo excelente?
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[Fonte:Baixaki Jogos]